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O corpo em terapia

  • Foto do escritor: Cláudia Casavecchia
    Cláudia Casavecchia
  • 16 de ago.
  • 3 min de leitura

A obra "O Corpo em Terapia", de Alexander Lowen, apresenta uma compreensão abrangente do sistema de análise bioenergética. Criada dentro da tradição psicanalítica, mas também em desafio a ela, a análise bioenergética deriva do trabalho de Wilhelm Reich e de outros pensadores psicanalíticos progressistas. Enquanto a psicanálise se concentra em obter insights cognitivos, que muitas vezes não resultam em mudanças reais no modo de viver, a análise bioenergética busca transformar o insight em experiências que gerem transformações positivas. Nesse sentido, Lowen ressalta que, sozinhas, nem as abordagens psicológicas que deixam de considerar o corpo, nem as abordagens corporais que desconsideram a dimensão psicológica são suficientes para lidar com os problemas que chegam aos profissionais de saúde mental.

 

A unidade mente-corpo é, portanto, o conceito fundamental da análise bioenergética. Essa abordagem mantém e desenvolve a herança singular da tradição reichiana, na qual o trabalho corporal está enraizado em uma profunda compreensão das dinâmicas de personalidade e caráter, enquanto essas psicodinâmicas, por sua vez, estão ancoradas no corpo vivido. O objetivo central é libertar o organismo para experimentar o prazer de uma vida mais expansiva e autêntica, em coerência com a integração mente-corpo.

 

Na história da psicanálise, enquanto muitos se detinham em aspectos teóricos, Reich e Ferenczi trouxeram inovações decisivas para os procedimentos técnicos. Como afirmava Reich, “o organismo vivo se expressa mais claramente através dos movimentos do que das palavras”. Assim, a estrutura corporal e física, junto às atitudes emocionais, pode se tornar objeto de estudo da técnica analítica tanto quanto os sonhos, os atos falhos e a associação livre. Surge então a questão: é possível modificar o caráter de um indivíduo sem alterar sua estrutura corporal e sua mobilidade funcional? Por outro lado, se a estrutura pode ser transformada e sua mobilidade aprimorada, não seria também possível efetuar mudanças significativas no temperamento e na vida emocional?

 

O princípio básico da bioenergética é que, em sua expressão emocional, o indivíduo é uma unidade. O campo de estudo está voltado para a forma como cada sujeito se expressa, a amplitude de suas emoções e os limites que encontra para exteriorizá-las. Trata-se de investigar a mobilidade do organismo, já que a emoção depende da capacidade de se manifestar. Nesse processo, torna-se necessário enfrentar o medo do mergulho interior, aprendendo a superar também o receio do movimento.

 

Partindo do pressuposto de que a personalidade e o caráter possuem uma estrutura física, a análise bioenergética defende que a intervenção terapêutica deve igualmente considerar essa dimensão. Embora tenha origem Reichiana, a bioenergética difere de sua matriz em teoria e técnica, apresentando aspectos próprios e fundamentais. O terapeuta bioenergético, nesse sentido, não analisa apenas a disfunção psicológica, mas também a expressão física do problema, visível na estrutura corporal e nos movimentos do paciente.

 

A técnica consiste em liberar sistematicamente as tensões físicas presentes nos músculos cronicamente contraídos e espásticos. Além disso, na terapia bioenergética, o contato físico coloca em evidência os fenômenos de transferência e contratransferência, favorecendo a dimensão afetiva do processo analítico. Como afirma Lowen, “só com humildade e franqueza se pode ousar encarar o profundo manancial de sentimentos que está na essência dos seres humanos”.

 

Assim, a obra busca diminuir a distância entre a psicanálise e a necessidade de uma abordagem corporal no tratamento dos transtornos emocionais, propondo um caminho integrador que reconhece, na unidade mente-corpo, a base da verdadeira transformação.


Cláudia Casavecchia


LOWEN, Alexander. O corpo em terapia. São Paulo: Summus, 2024.

 
 
 

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